Friday, September 9, 2011

Memórias de um ruikie







Muito já se disse sobre a prova de Nelas, coube-me a mim o papel de rookie nestas andanças, e com o resultado nada desprezável de melhor estreante veterano (mais de 40) com bicicleta de mais de 14kg, sem pedais de encaixe, originário de Coimbra e residente em minha casa.
Agora esta estreia merece sem dúvida uma descrição em condições (*aptaalama):
Prova chuvosa inicialmente, largada em pelotão no empedrado de Nelas, tudo ok, parecia uma prova a sério, com escolha do lado de passagem nas rotundas e tudo, isto até à saída para o mato, com encravanço imediato da corrente na engrenagem, que implicou desmontagem e perda de umas dezenas de lugares. Nas descidas, perdia regularmente posições, num ritmo invejável que sofreu um revés ao quilómetro 11, ali para as bandas de Lobelhe do Mato, quando o pessoal à frente começou a olhar e a perguntar por onde era o caminho, que seguramente não seria por ali.
Nesse momento de retorno para trás, no registo de cada um por si onde é que está a bússola, agradeço a colaboração de uma senhora idosa com uma cadelinha irritante nas minhas canelas – “Ah, isso aí eles andaram a marcar foi lá para baixo, não é para aqui”.
Quando finalmente avistei um ciclista, surpreendeu-se de eu ainda vir atrás dele. O rapaz, que fazia parte da organização da prova, estava a fechar o pelotão.
Ora, como se diz na fórmula 1, a partir daqui foi uma corrida de trás para a frente, quase como o Kimi Raikonnen em Suzuka 2005, ultrapassando:
- o ciclista parado com uma avaria
- o par pai/filho com 10 anos
- o ciclista hipercauteloso nas descidas - atenção, sou eu(!) que o afirmo!
- o sexagenário que cai à minha frente
- o casal de namorados do btt
- os ciclistas que ficam a conversar com as meninas do controlo
- os atletas sentados no chão com cãimbras
- o jovem que sobe desmontado pouco mais devagar do que eu
- a equipa apressada a reparar um furo
- o teenager que se queixa da bicicleta, “se tivesse uma daquelas subia isto tudo”
- os concorrentes que permanecem a lanchar no local dos reabastecimentos
- e no fim, é verdade, diverso pessoal cansado na subida.
Entre outros! E não pensem que não ofereci ajuda aos azarados e desprotegidos do pedal.
Quando comecei a desconfiar que a coisa não ia bem foi no primeiro controlo quando ouvi “Já falta pouco” e “Então? A força nessas pernas?” e depois numa aldeola “Você é o último? Quê, ainda lá vêm mais?”.
Um esforço meritório, divertido, e uma bela experiência para recordar. Aguarda-se pela próxima.
Abraços.

(*aptaalama – finlandês para: aviso para terminar aqui a leitura aos mais atentos)

3 comments:

  1. Grande Kimi Rui!
    Uma prova, para atletas do saudoso OlivaisBTT, é muito mais que uma distancia para percorrer sentado numa bicicleta, como pela 1ª vez foste testemunha. É uma forma de expressão diferenciadora que previligia a comunhão com a natureza, o doseamento de sacrificio e o alívio periodico da zona pelvica, em deterimento da gloria efemera de ser contemplado com um prato comemorativo feito nas Caldas após um repasto do melhor amigo do ciclista: o porco no espeto!
    A tua prestação foi memoravel e digna de entrar nos anais (salvo seja) do historial desta secção.
    Bidons de saudações, cremalheiras de novas aventuras.
    PS

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  2. Cajó,

    E as fotos pá?
    E as fotos pá?
    O povo quer ver as fotos de Nelas, pá!

    PS

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